A confusão desta terça (8), a enésima na crise
político-econômica de 2015, pode ser resumida numa sentença dupla: Joaquim Levy
encarnou mais uma derrota anunciada do governo Dilma Rousseff, e Michel Temer
deu mais um passo para longe de sua chefe.
Depois do imbróglio da
tentativa
frustrada de recriar a CPMF e de ter de
recuar seu
Orçamento
“sincero”
e deficitário, o governo se vê novamente enrolado para desfazer o mal-estar
de uma proposta para tentar achar uma saída para o lado econômico da crise.
Desta vez, o próprio ministro da Fazenda vocalizou uma das
discussões em curso no governo, a do
aumento
no Imposto de Renda como fonte robusta de arrecadação para ajudar a
combater a crise.
Se foi por ingenuidade, autoconfiança ou sinceridade
inspirada por ares europeus não se sabe, mas o ministro falou o nome do Tinhoso
dentro da igreja na hora da missa.
Empresário nenhum quer ouvir falar em aumento de imposto,
ainda que ele seja considerado inevitável dentro do plano para entregar ao
mercado uma meta fiscal factível.
Politicamente, a situação é muito delicada para Dilma, já
que o apoio que o governo ainda tem no empresariado é um dos últimos esteios de
sustentação de sua gestão.
Tanto é assim que recuou do Orçamento deficitário após ser
pressionada diretamente por chefões do PIB, preocupados com os efeitos
negativos da perspectiva “oficial” de que a situação fiscal do país não irá
melhorar.
O vice-presidente Temer (PMDB), por sua vez, também se viu
obrigado da modular o discurso após ouvir empresários e os dois capitães do
Congresso, seus correligionários Eduardo Cunha (Câmara) e Renan Calheiros
(Senado).
Temer havia começado o dia se preparando para levar para o
jantar com governadores e líderes do PMDB a proposta de
aumento
da Cide só para, após conversar com Dilma, dar declarações calculadas
nas quais antagonizou a chefe.
Na segunda (7), em discurso na internet, Dilma falara em
“remédios
amargos” para a crise; Temer
rechaçou o
uso dos mesmos, usando exatamente as mesmas palavras. Simbolismo é tudo em
política.
O que está em curso é um cabo de guerra múltiplo. Todos
sabem que sem aumento de imposto e cortes não existe como o governo fazer
superavit fiscal ano que vem; a dosagem e os limites de cada coisa são objeto
da disputa.
Com Temer alinhado ao PMDB e aos empresários, contudo, mais
um passo foi dado na narrativa da crise de 2015.