Folha de São Paulo – O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) viu
seu poder minguar substancialmente em quatro dias. Na última terça-feira (13),
governo e oposição achavam que o presidente da Câmara estava pronto para
deflagrar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na sexta
(16), o discurso era outro.
Nesse intervalo, Cunha foi alvejado em muitas frentes.
Documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça comprovaram a existência
de contas secretas em nome do parlamentar naquele país.
Os papéis mostraram que a Suíça registrou as contas usando
como identificação de Cunha seu passaporte diplomático. A assinatura do
deputado consta dos documentos. Até então, ele negava ter recursos no exterior.
Depois disso, deixou de discutir o mérito das denúncias que sofreu e se limitou
a criticar o vazamento das provas.
“Ele sempre falou que não tinha nada no nome dele”, contou
um deputado do PMDB. “A gente até achava que podia vir algo em nome de uma
empresa e ele como beneficiário. Mas quando apareceu a assinatura e o
passaporte… Até tapando o nariz dava para sentir o cheiro.”
Na sequência, foram divulgados trechos da delação do lobista
Fernando Soares, o Fernando Baiano, que diz ter distribuído a Cunha e outros
políticos propina do esquema de corrupção descoberto na Petrobras. O lobista
afirmou que Cunha recebeu ao menos R$ 5 milhões em espécie.
As revelações fragilizaram o peemedebista de modo que, na
noite de sexta-feira, o discurso quase unânime entre os governistas e os seus
opositores era de que ele não tinha mais condições de permanecer à frente da
Câmara.
Sua melhor jogada, avaliaram deputados e senadores ouvidos
pelaFolha, seria trabalhar para
fazer um sucessor que consiga dar um desfecho à crise política, abrindo ou
enterrando um pedido de impeachment da petista.
Agora, avaliam os deputados, o trunfo de Cunha deixou de ser
o afastamento de Dilma e passou a ser sua capacidade de conduzir a própria
sucessão na Câmara.
Cabe ao chefe da Casa a decisão de dar prosseguimento ou
arquivar pedidos de impeachment. Daí a importância de Cunha costurar a própria
sucessão: se emplacar um aliado no cargo, continuará podendo influenciar o
desfecho do governo Dilma.
CASSAÇÃO
O consenso é de que o peemedebista precisa agir rapidamente
para não perder as condições de negociar a manutenção do mandato, evitando um
processo de cassação no Conselho de Ética.
O peemedebista, agora, terá duas opções, calculam
parlamentares próximos. Pode fechar um acordo com o governo e ajudar o Planalto
a patrocinar um nome mais próximo aos articuladores da presidente Dilma,
confiando que o PT não se engajará na cassação de seu mandato.
Ou pode fechar com a oposição e ajudar a eleger como
sucessor um adversário da petista. Essa segunda opção, é o que está sendo
chamado nos bastidores da Câmara de “impeachment branco”.
Segundo um deputado da oposição, Cunha, que ensaiou uma
reaproximação com o governo quando surgiram novas denúncias contra ele nesta
semana, voltou na última quinta (15) a se queixar do Planalto e a dizer que era
vítima de perseguição.
Nas conversas, ressaltou que não via as investigações contra
ministros do governo citados na Operação Lava Jato terem desdobramentos na
mesma velocidade que a sua.
Esse descontentamento alimentou aliados do peemedebista que
trabalham pelo impeachment, como o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho
da Força (SD-SP).
Segundo relatos, na tentativa de frear as conversas entre
Cunha e o Planalto, Paulinho disse ao peemedebista que “se o governo
conseguisse segurar alguma coisa, não tinha ninguém do PT preso”.
Na sexta-feira, quando o isolamento de Cunha era visível no
Parlamento, Paulinho foi um dos poucos deputados que fizeram uma defesa pública
do peemedebista. Um senador tucano viu no gesto a senha de que será Paulinho o
interlocutor de Cunha com as oposições.
É que PSDB e DEM vão manter o discurso de que o peemedebista
precisa renunciar a Presidência da Casa para poder se defender no Conselho de
Ética. E Cunha tem dito que não deixará o posto.
Na primeira vez que a oposição divulgou essa tese, há uma
semana, o peemedebista se irritou e disse que não era possível confiar em gente
que dava mostras de que o abandonaria no primeiro revés. “Se eu derrubar ela
[Dilma], no dia seguinte vocês me derrubam”, afirmou.
A reclamação repercutiu. Cobrado por aliados que diziam que
a cobrança havia jogado Cunha contra o impeachment, o senador Aécio Neves (MG),
presidente do PSDB, observou: “O afastamento dela [Dilma] não pode se dar às
custas da destruição do nosso discurso”.
A oposição pretende levar à disputa pela Presidência da
Câmara um “oposicionista da gema”. Uma vitória seria a desmoralização do
governo, avaliam. Quem não acredita nesse resultado adverte que a queda de
Cunha e ascensão de um nome mais sensível ao Planalto não deve ser vista como
uma vitória por Dilma.
“A vida dela depende de um bichinho chamado economia, e eu
não sinto ânimo para consertar. A CPMF não passa aqui”, sentenciou um senador
do PMDB.