O procurador Rodrigo Telles, da Operação Manus, calcula que
o Rio Grande do Norte está ‘cerca de quinze a vinte anos atrasado na prevenção
e na repressão’ da corrupção, segundo a jornalista Julia Affonso, de O
Estado de São Paulo.
ESTADÃO: Henrique Eduardo Alves, mesmo preso,
ainda é um homem muito poderoso no Rio Grande do Norte?
PROCURADOR RODRIGO TELLES: Henrique Alves não
só era, como ainda é, um homem muito poderoso, não apenas no Rio Grande do Norte,
mas em todo o Brasil. Foi deputado federal por onze mandatos consecutivos, por
quarenta e quatro anos, desde a época da ditadura militar, passando pela
Assembleia Nacional Constituinte. Na Câmara dos Deputados, depois da
redemocratização, foi líder do PMDB e ocupou a presidência da casa legislativa.
Com o fim da sucessão de seus mandatos, chegou a ser ministro do Turismo. É uma
das figuras de maior relevo no PMDB, um dos maiores partidos políticos do País.
Sua família (tratada por muitos como o “clã dos Alves”) tem uma tradição
política antiga no Rio Grande do Norte. Uma rápida análise dos seus dados
telefônicos, obtidos mediante autorização judicial no decorrer da Operação
Manus, mostra constantes contatos com a Presidência da República, deputados
federais, senadores, autoridades do Poder Judiciário e do Ministério Público.
Na área econômica, mantinha contatos com executivos de grandes empresas
brasileiras e tem seu próprio grupo empresarial no Rio Grande do Norte, formado
basicamente por empresas de comunicação (televisão, rádio e jornal) que são
responsáveis por significativa difusão de informação e pela formação de boa
parte da opinião pública no estado. Todo esse poder de influência, tanto na
esfera estadual, quanto em âmbito nacional, manifesta-se de diversas formas.
Uma das principais é a descrença de boa parte da população e, inclusive,
de vários agentes do sistema de justiça criminal de que uma ação penal contra
ele tenha algum resultado efetivo. Outra também digna de destaque é a
dificuldade em evitar um tratamento privilegiado a ele durante processos e
investigações; como exemplo, apenas durante os dois primeiros meses de prisão
preventiva, ele teve mais do que 400 visitas, sem um maior controle quanto ao
ingresso de pessoas com instrumentos de comunicação como telefones celulares, o
que seria impensável em um sistema prisional comum, ao qual se destina a
maioria das pessoas.