As coisas poderiam estar perfeitas para Jair Bolsonaro. O
presidente acaba de receber alta hospitalar, o Renan Calheiros levou uma
paulada no Senado, o Lula continua preso e o PT se diverte discutindo se Gleisi
Hoffmann errou ao comparecer à posse de Nicolás Maruro, na Venezuela.
Entretanto, embora a conjuntura sorria para o presidente, seu governo parece
decidido a adotar o tiro contra o próprio pé como esporte predileto. Sem
oposição, o governo cria suas próprias crises. Faz isso com o luxuoso auxílio da
família Bolsonaro.
A penúltima crise foi produzida pelo vereador Carlos
Bolsonaro, o ‘Zero Dois’ da prole presidencial, o filho que o presidente chama
carinhosamente de ‘Meu Pitbull’. Pois bem, Carlos mordeu o ministro
palaciano Gustavo Bebianno. Chamou-o de mentiroso. Para mostrar que não
acionava as mandíbulas sozinho, o “pitbull” jogou nas redes o áudio do pai se
recusando a atender ao ministro que jurava ter se comunicado com ele.
Governar o Brasil deve ser algo prazeiroso. O horário é
flexível, o dinheiro é razoável, há um carro oficial na garangem e um avião no
hangar. Além disso, há sempre a possibilidade de executar a demissão de alguém
como Gustavo Bebianno. Deve ser uma sensação boa afastar um ministro cuja
serventia no Planalto é algo ainda pendente de demonstração. Mas Bolsonaro
resolveu terceirizar ao filho a desmoralização do ministro.
Aos pouquinhos, a família Bolsonaro vai se revelando uma
usina de encrencas. O próprio presidente ainda deve à plateia explicações sobre
o depósito feito pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro, o filho-senador, na
conta da primeira-dama Michelle. Quando um presidente não tem oposição e
fabrica suas próprias crises, a coisa vai mal. Quando as crises nascem no seio
familiar, elas tedem a se tornar duradouras e insolúveis.
JOSIAS
DE SOUZA